Finis Patriae

Caixa de texto: Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de miséria, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas. [...]"        "Guerra Junqueiro"

segunda-feira, outubro 03, 2005

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Há sempre em mim uma estranha sensação quando sinto o avião pousar, mesmo que me tenha ausentado apenas por dois ou três dias, como foi o caso. Estou de volta e faço o desembarque com a certeza que é aqui que eu pertenço e em mais lugar nenhum.
Mas maior que a grandeza do regresso é a pequenez da constatação que sem mim este país nada mudou nestes últimos três dias, sentir que provavelmente, em tão pouco tempo, já se habituaram a viver sem mim; não fui cumprimentado no aeroporto, ninguém me reconheceu, passei despercebido no desembarque e não fosse o taxista, nem “boa noite” me tinham dito. Imaginei o que seria se não tivesse voltado, seria grave? Estariam as pessoas prontas para passar o que passaram antes de eu ter nascido?
Recebi uma mensagem do operador de telemóvel a dar-me as “boas vindas”… alguém os deve ter avisado da minha ausência, ainda bem que se lembraram; vou continuar com eles, pelo menos mais um ano, mesmo que os outros baixem os preços...
Durante os 30 minutos de táxi ordenei algumas ideias que tinha desordenado nas duas horas de avião e nos 20 minutos de desembarque, fez-me bem… gosto de ter as ideias no lugar.
Enviei duas mensagens que não pediam resposta, como aliás faço quase sempre e ninguém me respondeu, mas eu sabia que eles agora sabiam que eu estava de volta e isso bastava.
Enviei uma terceira mensagem que pedia resposta e fui respondido, mas como não me agradou a resposta, não respondi e desliguei logo o telemóvel porque não queria ser mais incomodado.
Agora, chegado a casa e sem a mínima hipótese de voltar a ser importunado, havia que terminar o relatório que tinha começado a fazer no avião e que não tinha acabado para poder para desordenar algumas ideias; não demorou muito a terminar porque entretanto, no táxi, tinha voltado a ordenar as ideias, fui ao mail, nada de novo, fui aos blogues mas não fiquei por muito tempo; propositadamente, ninguém tinha falado na minha ausência, liguei a televisão e vi que ainda funcionava, desliguei-a portanto; voltei ao computador, escrevi este post e preparei-me para terminar a noite pensando como fazer no dia seguinte, para que se recuperasse desta minha ausência de três dias.
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